quarta-feira, 12 de março de 2008

A nova poesia resistente (do funcionário público)

No primeiro diploma,
Congelaram as progressões,
Acabaram os escalões,
E NÃO DIZEMOS NADA.

No segundo diploma,
Aumentam o tempo das reformas,
Mexem com todas as normas,
E NÃO DIZEMOS NADA.

No terceiro diploma,
Alteram o sistema de saúde,
Há um controlo amiúde,
E NÃO DIZEMOS NADA.

No quarto diploma,
Criam-se informações,
Geram-se várias divisões,
E NÃO DIZEMOS NADA.

No quinto diploma,
Passa a haver segredo,
As pessoas vivem com medo,
E NÃO DIZEMOS NADA.

ATÉ QUE UM DIA,
O EMPREGO JÁ NÃO É NOSSO,
TIRAM-NOS A CARNE FICA O OSSO,
E JÁ NÃO PODEMOS DIZER NADA.
PORQUE A LUTA NÃO FOI TRAVADA,
A REVOLTA FOI DOMINADA,
E A GARGANTA ESTÁ AMORDAÇADA.

Um comentário:

O Cu de Oeiras disse...

E não podem dizer mesmo nada!
É que as empresas públicas e os serviços públicos nacionais andam equivocados. Só pode ser isso. Não me ocorre nenhum país europeu onde o funcionalismo público acha que existe para diariamente fazer um imenso favor aos seus utentes. Curiosamente essa é a postura comercial das empresas e serviços do Estado.
Quantas vezes é que tiveram que esperar eternamente numa fila de um qualquer balcão de atendimento dum serviço público para, chegada a vossa vez, levarem com a má disposição de um funcionário público de ar bovino e cabelo empastado? Vezes demais provavelmente...
Quantas vezes ligaram para a linha de atendimento de uma empresa pública e se sentiram autênticas bolas de ping pong a correr todas as operadoras de um call center manhoso? Vezes incontáveis, suponho.
A razão de existência destas empresas e serviços não é, como seria normal deduzir-se, dar emprego a um monte de gente retardada cuja única noção de carreira consiste em subir de letra a letra, estilo abecedário. A verdadeira razão desta incompetência atávica tem como objectivo final a manutenção do status quo, afastando qualquer pessoa que remotamente pense em tornar qualquer processo mais rápido, mais eficaz ou mais útil. Desmotivando o recrutamento de indivíduos competentes, o funcionalismo público assegura a sua sobrevivência mantendo no activo, até começarem a cheirar a podre, aquelas senhoras e senhores que se arrastam penosamente, qual zombies, no interior das repartições públicas por este país fora.
Claro que a excepção confirma a regra.

Boavida Pires